Saio de algumas aulas cansada, mas vale a pena. Independente disto as discussões são sempre importantes e isto só é possível quando temos bons alunos. Tenho bons alunos.
Foi bem interessante o caminho que a discussão tomou hoje, quando alguém disse que preciso aceitar determinada opinião se ela é unânime. Será? Parece que o espírito da democracia tem sido este: a vontade da maioria.
Mas o que pensa a maioria? O que leva a maioria a pensar desta ou daquela forma? A maioria está sempre certa porque é a maioria?
O professor precisa ter este cuidado de reconhecer as causas que levam aquela maioria a agir desta ou daquela forma. Muitas vezes a maioria exerce o espírito corporativo, o que não significa estarem certos. Vejam os exemplos das atrocidades revolucionárias.
Cada maioria tem os seus motivos para pensar como pensa. Quando entramos na universidade trazemos uma história, uma experiência de vida e modelos mentais que nos constituiram como somos. Estarmos preparados para a ciência requer o desarmamento de nossas convicções e abertura para outros saberes.
Fazer a crítica de outros saberes envolve o conhecimento destes saberes. Falo de conhecimento aprofundado, como a leitura dos textos solicitados, por exemplo. Muito do que se discute nos encontros seria mais esclarecido se todos realmente lessem os textos. Mas ler também implica reflexão. Uma leitura por alto, superficial não leva à reflexão crítica.
Uma outra coisa importante que se deve pensar com relação ao embate maioria&minoria é tentar ver quem é a minoria. O que a minoria tem a dizer? Com base em quê a minoria se insurge frente à maioria? Estaria a minoria querendo mostrar à maioria que há muito mais para se pensar sobre as questões complexas do que simplesmente escolher esta ou aquela decisão?
Quando falamos de educação hoje precisamos estar atentos que as condições concretas dos processos de aprendizagem - a escola, os alunos, os conteúdos, as metodologias, os materiais, a sociedade, a cultura, a política, a economia, a ecologia... - estarão em constante movimento, oscilando desordenadamente porque fazem parte da vida.
Não podemos escolher ser desta forma ou daquela forma, e pronto, mas seremos muitos, nos adequando aos contextos, tentando lembrar quem somos e o que queremos ser, mas sendo reflexivos, avaliar constantemente nossa práxis.
Eu sou minoria, mas me desdobro em muitas só para dar conta das dúvidas desta maioria que tanto prezo.
